sábado, 5 de fevereiro de 2011

Amor sem idade


Pedro Serápio/Gazeta do Povo / Com amor e paciência da nova dona Edilaine, Tutti e Belinha hoje são tranquilos e brincalhões

Eles podem ter perdido a carinha de filhotes e ter crescido, podem estar na rua ou em ONGs de proteção animal, mas continuam precisando de um lar tanto quanto os bichos mais novinhos. Só que adotar um animal adulto, além de proporcionar diversas alegrias, representa também um desafio.

Tutti, de 2 anos, e Belinha, de 3, hoje os dois xodós da analista de responsabilidade social Edilaine Oliveira, chegaram em casa assustados e tremendo – o primeiro tinha cortes na pele por causa de uma tosa malfeita, e a segunda estava com os pelos cheios de nós e pulgas. Os dois – ele, mestiço de lhasa apso e maltês e ela de lhasa apso e shih-tzu – foram doados a Edilaine pela antiga dona, dois meses antes. “O médico veterinário me disse que a Belinha estava acostumada à vida em família, mas que o Tutti tinha sinais de que havia sido maltratado, por isso tive mais problemas com ele”, conta.

RSSEles podem ter perdido a carinha de filhotes e ter crescido, podem estar na rua ou em ONGs de proteção animal, mas continuam precisando de um lar tanto quanto os bichos mais novinhos. Só que adotar um animal adulto, além de proporcionar diversas alegrias, representa também um desafio.

Hugo Harada/Gazeta do Povo

Hugo Harada/Gazeta do Povo / Elijah com a pit bull Afrodite e seus donos Cíntia e Guilherme: de cão feio a companheiro saudável e bonitoAmpliar imagem

Elijah com a pit bull Afrodite e seus donos Cíntia e Guilherme: de cão feio a companheiro saudável e bonito

Teste

Você pode adotar quando:

- É uma pessoa paciente: muitas vezes o animal pode ter traumas e medos e é preciso que o dono ganhe a confiança dele aos poucos e com calma.

- Tem certeza que o novo bicho da vai se adaptar a outros ani­mais que você têm em casa. Cães machos adultos ten­dem a ser mais territorialistas e podem não gostar da nova compa­nhia – uma boa dica é apresentá-los fora de casa, em um ambiente neutro.

Melhor pensar bem quando:

- Você tem um animal com tendência a não aceitar convivência com outros bichos, especialmente os adultos.

- Nunca teve um cachorro antes. Cães que sofreram maus-tratos podem ser um pouco mais difíceis de ganhar a confiança e donos inexperientes podem ter algum contratempo.

Ela lembra que, no começo, ele se escondia atrás da cortina e lá ficava. Tinha medo das pessoas e só comia no escuro, tremia sem parar. “Precisei ser paciente, criei uma rotina de passeios e brincadeiras – sempre saímos no mesmo horário – para criar esse hábito e mostrar que ele não seria mais abandonado. Deu certo, hoje ele está mais serelepe, começando a aceitar a presença de outras pessoas e brincando mais”, explica Edilaine.

Traumas

No caso de animais traumatizados ou que sofreram maus-tratos e abandono, é muito importante que o dono tenha paciência. Segundo o médico veterinárioWagner Bueno, delegado do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Curitiba, é provável que animais vítimas de traumas carreguem consigo um medo, como o de sair de casa, no caso de um atropelamento. Em casos de bichos abandonados, com um novo dono o animal somente aos poucos percebe que não sofrerá isso novamente, ganhando a confiança e se soltando. Até mesmo em relação à comida disponível o animal de rua recentemente adotado terá de se adaptar: com ração disponível regularmente, o cão não vai precisar comer muito de uma só vez. E assim, a rotina entre os donos e seus bichos vai se regularizando.

Inteligentes?

Encontrado na rua, sujo e com fome, em fevereiro do ano passado, o cãozinho chamado Achado foi adotado pela assessora jurídica Helena Fabiane. Com muito medo e ansioso, ele, que na época devia ter por volta de um ano, teve que ser conquistado com carinho e comida. “Contrariando o que muita gente pensa sobre cães adultos, o Achado é muito inteligente e aprende truques como qualquer filhote, me dá a patinha quando peço. Hoje ele é sadio e vive tranquilo conosco”, conta ela – Achado não aparece nas fotos desta reportagem porque está de férias na praia, com a mãe de Helena.

O mito de que cães adultos não aprendem, por terem seu jeito e manias, também não se sustenta, segundo Bueno. “Eles têm sua personalidade formada, mais calmos ou brincalhões, mas isso não impede que aprendam ordens dos seus donos”, explica Bueno. Segundo ele, é até mais fácil ensinar a um adulto sobre onde ele deve fazer xixi do que a um filhote. Eles aprendem por repetição, observam o local correto e entendem antes dos filhotes, por terem um discernimento maior.

Dono escolhido

Enquanto cães como Tutti e Achado foram escolhidos pelos donos, ou­tros, como o SRD Elijah, escolheram os seus. Com a ideia de adotar um filhote para fazer companhia para sua pitbull Afrodite, a analista internacional Cíntia do Rocio Ma­chado foi a uma feira de adoção. “Dei de cara com filhotes de todos os tipos, lindos! Mas parei para conversar com um senhor que estava com uns seis cachorrinhos adultos, eram bichos grandes e não eram bonitos. Um deles não parava de me olhar e era bem espevitado! Então resolvi adotá-lo. Ele era tão feio e grande que o pessoal da feira parou para me aplaudir quando o adotei”, lembra ela, divertindo-se. Com jeito de cachorro malandro, Elijah é bagunceiro e comilão, mas está mais sadio e confiante. “Vejo todos os dias a gratidão e o amor nos olhinhos dele, e isso não tem preço – e o melhor é que a cada dia ele fica mais bonito!”, conta.

Sem história

Adotar um animal adulto traz como maior problema a falta de um histórico médico – não dá para saber com certeza quantos anos ele tem ou se sofreu algum trauma. “Apesar disso, normalmente as histórias de adoção de animais adultos resultam mais em sucesso do que em fracasso”, diz o zootecnista e professor da PUCPR Paulo Parreira. Isso porque eles têm vários aspectos positivos, como o fato de terem passado da fase de destruição pela qual os filhotes passam e também o fato de que normalmente não vão crescer mais, ou seja, o tamanho final deles não vai surpreender.

Na ONG Amigo Animal, em 2010, foram adotados aproximadamente 150 cães, a maioria deles adulta, como explica a conselheira fiscal da organização, Karina Hauer Silveira. “O índice de devolução de animais adultos para a ONG é bem menor do que a de filhotes. Isso justamente porque os cachorros crescidos, na maioria dos casos, não destroem mais os pertences dos donos e se adaptam com maior facilidade à rotina da casa”, explica. Ela é a responsável por fazer o acompanhamento dos animais que são doados – cada um tem uma ficha com os contatos do novo dono e assinatura prometendo que os bichos não serão maltratados e que terão assistência médica. Atualmente, existem cerca de 2 mil cães na chácara da ONG, em Campo Magro, na região metropolitana de Curitiba.

Adotei, e agora?

Uma visita ao médico veterinário é recomendada para o quanto antes. Com base na arcada dentária do animal, ele consegue determinar uma idade aproximada, o que ajuda em cuidados futuros. Além disso, ele pode verificar se o cão está anêmico ou com vermes. “Se você pegou um bicho em uma feira de adoção e alguém disse que ele está vacinado, desconfie. Acredite apenas se a pessoa fornecer a carteirinha de vacinação carimbada e assinada por um profissional”, explica Wagner Bueno, médico veterinário e delegado do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Curitiba.

Fonte: Gazeta do Povo

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